quinta-feira, 12 de junho de 2008

11 Ode ao meu Rio

Era uma vez um rapaz que vivia numa cidade com um rio dourado e o sentimento de saudade tão dificil de explicar. Era um rapaz diferente se bem que aparentemente tão igual a tantos outros. Não tinha muitos amigos, se se podia dizer que os tinha, e passeava muitas vezes ao longo daquele deleite dourado que o viu nascer. O rio que tantas vezes o apaziguava misteriosamente embrulhando-o numa sensação única de bem estar. Apaziguava as suas maleitas e o seu coração ferido. Era um rapaz ainda uma criança, magoado com a vida sem saber bem porquê. Esperava mais de si do que o que tinha mas nada fazia para o mudar. Pensava que o mundo tinha que se adaptar a ele e não ele ao mundo. Por ser tão único e tão diferente. Talvez por isso se senti-se bem a beira daquele rio. Era um rio como tantos outros mas para ele não. Era quase que mágico e hipnotizante. Adorava parar na ponte a sentir o vento frio a bater-lhe na cara nas madrugadas que passava a passear junto ao seu leito. O rio parecia falar com ele. Dar-lhe o que ele precisava e tanto queria. Sentia-se como que se pertencesse a algum sitio perto daquele rio. Aquele rio que o vira nascer, onde já se tinha banhado, onde já tinha passeado e onde tantos momentos de alegria na sua vida se passavam tendo o rio como pano de fundo. Mas agora ja nao. O rio apenas o ajudava a sobreviver para que nao se sentisse tao mal como antes de o ver. Parecia recarregar as suas energias. E, quando chegava a casa, sentia-se novamente apatico. Sem sentido e sem forças e tentava recordar o vento como que se um sopro do rio se trata-se. Sentia a pele a eriçar com a emoção da recordação. Como tantas outras recordações o faziam chorar. E assim ele navegava pelas aguas do rio como pelas aguas da vida. Havia uma diferença. O rio dava-lhe bonança mesmo quando tempestuosamente forte e agressivo. Dava-lhe força e relembrava-o que nem tudo estava ao seu alcance, que nem tudo podia ser mudado só com a sua força de querer. Puxava-o à terra nao o desligando dos seus sonhos. A vida não. Era qual cabo das Tormentas, com remoinhos e ondas gigantes, monstros marinhos e Adamastores possantes e apaixonantes que levantam a paixão dos H0mens para o derrotar. Sempre trabalhoso. Nunca pacifico. Sempre temultuoso. Talvez ele vi-se no rio o que ele própio gostava de ser. Afinal a vida era um reflexo de si mesmo. O rio podia ser apenas uma reflexão do que desejava. A beleza, a calma, a serenidade, o desejo de ser admirado e amado por tantos. Mas ele não era o rio. Ele era a vida. E isso sempre o magoava. Ele não queria ser a vida. Queria ser o rio que desagua no mar e parte para terras estranhas e desconhecidas. Ele era a vida presa num só lugar. Ele queria ser o rio que corre para o mar. Só no mundo e sem ninguém que o entendesse partia só pelas amargas ruas da vida com o deleite que tinha quem o amasse próximo das margens da sua vida. A verdade é que o rapaz temia a solidão. A solidão com que morreria. A solidão que é minha porque o rapaz sou eu. A energia que quero que é do rio que é meu. Eternamente meu. Intensamente dourado. Rio Douro.


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