segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Décimo Segundo

Os ventos do tempo sopraram e agora que a areia que ficava presa na minha engrenagem se soltou a minha vida volta a vulgaridade que sempre foi. Nada de interessante me acontece. Nem me apaixono nem se apaixonam. Não há dramas nem novelas e pela primeira vez em já há algum tempo não tenho que pensar em outras tolices senão as minhas. E as coisas assim complicam. É muito mais fácil de culpar alguém pela maneira que somos do que admitir os nossos erros e perdoar-nos a nós próprios por todo o mal que nos infligimos. Na verdade é uma realidade que me assusta um pouco. No nosso dia-a-dia demoramos tanto tempo a atingir objectivos que nos são propostos por outros que não temos a ousadia de pensar nos nossos. Eu por acaso nem sou muito assim. Sou mais do género egoista. Penso em mim e nos mais próximos de mim. Tudo em mim gira a volta da extrema necessidade que tenho de nunca me sentir só num espaço. Quem me dera que alguém me viesse e levantasse os pés do chão com um beijo ao luar romântico e apaixonado para esquecer os trilhos diários da minha sensaborona vidinha de classe média. Quem me dera não ter que pensar no que fazer para ter aquele dinheiro que se estoura no fim do mês em bens supérfluos e festas para teres agora dinheiro para poderes comprar aquele maço de cigarros para aquele intervalo naquela hora em que já não aguentas ouvir mais uma reclamação de pessoas cuja vida própria se torna tão obtusa que vivem para ver televisão e ai de quem se atrever a tirar isso por umas horas. Mas são só fantasias. Se bem que estas nos salvam muitas vezes do precipio alimentando a esperança de tempos menos dificeis, também elas se tornam num precipicio quando confundida com a realidade. E isso trama muita gente. Mas agora neste momento em que vos escrevo mais umas palavras sinto-me vazio. Sinto-me delicadamente incompreendido e só. A sensação de incompreensão e solidão é absolutamente devastadora para mim. E agora que o espaço no meu coração aumentou, o vazio por ele deixado aumenta e propagasse a velocidade da luz por toda a minha alma derretendo qualquer réstia de esperança que a minha vida venha a ter de especial ou importante. Não quero ser mais uma cara na multidão. Mas há pessoas que só nascem para ser desiludidas...

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