sexta-feira, 19 de março de 2010

Five Purgatório

Já há muito tempo que não escrevo. Costumo escrever por vontade, por desejo, por necessidade. Libertar nas letras que uso a alma presa a um mortal pensamento de imortalidade. Na minha vida muito mudou. Algumas coisas melhorias, outras poderão ser consideradas com versões diferentes do mesmo sentimento. Mas há um que nunca muda. Um sentimento constante e perturbante que me persegue e me enlouquece. Todos sentimos, todos o vivemos numa ou outra fase da vida, em alturas menos boas, em alturas mais desagradáveis. O sentimento que te faz olhar a tua volta e pensar que a tua vida é um vazio, uma nulidade de sentido, uma abstracção de tudo o que tu deverias ser. Os projectos que fizeste, as ideias que tiveste, outrora tão reais, tão possíveis, tão capazes de acontecer, agora destruídos pelo decorrer da vida que te tira o tapete de debaixo dos pés e te lança na escuridão de caminhos que nunca caminhaste. Procuras a luz, procuras o sentido mas sentes-te um erro, um engano, um capricho dos deuses que te lançaram para a Terra como que à espera que a tua vida seja uma comédia e que nos breves anos da tua existência se possam divertir com os rasgões que o teu sofrimento causa na tua alma. Corroí-te a sensação de nada que te percorre pelas veias qual veneno a envenenar todas as partículas do teu ser, corrompendo a beleza que um dia reconheceste no teu olhar, inocente, e que agora a vida te mostra ser capaz de tantas atrocidades como as que acusavas outros de realizar. E volta esse sentimento. Esse sentimento que te polui, te mancha e te marca. Que te faz sentir um buraco negro em que toda a felicidade é sugada e e anulada por mais breve e pequena que seja. E caminhas pelos caminhos oblíquos que as estrelas te traçam. Os caminhos tortuosos que vês em frente, perigosos mas deliciosamente atraentes, manchados de receios e de virtudes em que o teu papel é meramente transitório. E como um ciclo decadente, como uma escada em caracol que desces até ao Inferno, o sentimento volta. Como um vento agreste de Inverno, que te rasga a face e te congela a circulação, que te impele a abrigar no aconchego do teu regaço, do local a que chamas lar. E tudo pára. Aqui. Onde imprimo a minha alma, onde rejeito dogmas e me despejo. Onde perco o medo e me confesso. Saudades? Não me alimentam o espírito mas aconchega a vontade a de desaparecer, recordando outras alturas em que esse malvado sentimento te perseguiu. Mas sabes tão bem agora com de antes que é temporário. Amanhã já esqueceste. Outro dia se ergue das sombras repetindo tudo o que ontem se passou. As mesmas caras, as mesmas vozes as mesmas questões. Permanentes, duradoiras, quase que eternas. Então sinto as palavras subirem, e a expressarem esse sentimento que aqui gravo como cicatrizes na pele, no sitio que a minha alma agora vê como purgatório. Já alguma vez sentiste que não pertences?Aqui ou em qualquer lado? Então entendes o sentimento que aqui me traz. Então sabes o que aqui escrevi. Então vês um pedaço de mim.


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